sexta-feira, 28 de agosto de 2009

ESTÁ ACONTECENDO O CURSO GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA



A Unimontes, através da UAB/EXTENSÃO (Universidade Aberta do Brasil), em parceria com 8 municípios das regiões norte, noroeste e vales do Jequitinhonha e Mucurí, vem realizando desde o início de agosto diversos cursos de formação de professores do ensino médio e fundamental em várias temáticas, destacando aqui o CURSO GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA, onde as temáticas de gênero, sexualidade e orientação sexual e relações etnico-raciais têm uma abordagem articulada com o objetivo de disseminar práticas pedagógicas de enfrentamento ao preconceito e à discriminação desencadeando ações que visem educar a sociedade para o respeito e a valorização da diversidade e para o combate à discriminação. Os municípios de Almenara, Buritizeiro, Carlos Chagas, Francisco Sá, Janaúba, Mantena, Pompéu, Urucuia e Januária estão sendo agraciados por esse curso, com um total de 480 professores cursistas inseridos nesse projeto de cidadania. O curso terá duração média de 6 meses, divididos em 4 módulos, na modalidade EAD (Ensino à distância), com fases presenciais.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

NEHOM é premiado em Concurso Público do Ministério da Cultura

http://www.cultura.gov.br/site- CULTURA LGBT -Prêmio Cultural LGBT 2009

A Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SID/MinC) divulgou nesta terça-feira, 25 de agosto, a homologação do resultado final dos concurso público Prêmio Cultural LGBT 2009. O Edital nº 9 com a relação dos selecionados foi publicado no Diário Oficial da União (Seção 3, páginas 17 e 18). A premiação contemplará 54 iniciativas culturais que contribuíram para o combate à homofobia e para o aumento da visibilidade do segmento LGBT. O NEHOM (Núcleo de Estudos sobre Homocultua) da Unimontes está dentre as propostas premiadas com iniciativas que abordam o tema da diversidade sexual. "Considero relevante essa premiação pelo Ministério da Cultura como forma de reconhecimento pelo trabalho realizado em nosso primeiro ano de atividades, pelas vicissitudes da homofobia em nosso cotidiano existencial e da importância para a democracia enquanto legitimação da construção da cidadania para todos e todas, conforme reza a nossa Carta Mágna, promulgada em 1988".

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

WOODSTOCK SAI DO ARMÁRIO

40 anos depois, Woodstock sai do armário: um gay salvou o festival

Elliot Tiber fala ao G1 e diz que sua história foi vítima da 'homofobia'. Dono de um hotel na região, foi ele quem intermediou aluguel de fazenda. Agosto de 1969. Centenas de milhares de pessoas se reúnem em uma fazenda em Bethel, a 145 km de Nova York, para celebrar a música, o amor livre e os ideais da contracultura. Quarenta anos, algumas dezenas de discos, livros e documentários depois, a história do lendário Festival de Woodstock é mais do que conhecida. O que muitos ainda desconhecem é a história de Elliot Tiber, “o gay que salvou Woodstock”.
Tema de “Taking Woodstock”, comédia de Ang Lee que chega aos cinemas até o final deste mês, Tiber foi o sujeito que indicou e intermediou o aluguel da fazenda que sediou o festival, nos dias 15, 16 e 17 de agosto daquele ano. Exatamente um mês antes da abertura do evento, inicialmente previsto para acontecer em Wallkill para um público estimado de 50 mil pessoas, a câmara de vereadores da cidade cancelou a licença de realização do festival, deixando o produtor Michael Lang e seus sócios com um abacaxi de US$ 2 milhões já investidos em estrutura de palco, som e técnicos. De repente, parecia que tudo aquilo poderia mudar. O Festival de Artes e Música precisava de um lar e de uma licença. ‘Tenho a licença’, pensei comigo. ‘E posso garantir um lugar para o evento ’”, escreveu Tiber no livro de memórias recém-lançado no Brasil (editora Best Seller), batizado de “Aconteceu em Woodstock”. “‘Meu Deus! A gente pode sediar esse troço!’”, continuou ele, que, então aos 34 anos, dividia seu tempo entre o trabalho no El Monaco, hotel de beira de estrada comprado por seus pais, e a presidência da Câmara de Comércio de White Lake, comunidade vizinha a Bethel.
No livro e no filme, os eventos que se sucederam são narrados em ritmo alucinante – da chegada do helicóptero com os produtores do festival para vistoriar o local à invasão quase que imediata de milhares e milhares de hippies à pacata White Lake. Pela primeira vez em sua história, transformado no quartel-general dos organizadores, o El Monaco teve todos os quartos alugados; pela primeira vez, Tiber viu sua mãe distribuindo sorrisos em vez de grosserias, e também pela primeira vez na vida, o jovem judeu recebeu carinho do pai, que, doente, acabou morrendo um ano depois do festival.
“Ele me abraçou lá e disse: ‘você me fez tão feliz’. Mas não pôde dizer ‘eu te amo’. Ele nunca disse. A mamãe também não, estava sempre ocupada contando o dinheiro”, lembrou Tiber em entrevista por telefone ao G1. Homossexual assumido, o autor de “Aconteceu em Woodstock” relata a seguir a sua própria versão do que aconteceram naqueles “três dias de paz e música” – e de muita ralação.
G1 – Quarenta anos depois, o mundo está olhando novamente para Woodstock. Acha que ainda é difícil de as pessoas enxergarem o festival para além de seus clichês? Elliot Tiber - Grande parte das pessoas que viram o documentário [“Woodstock”, de 1970] ou ouviram falar, ao longo dos anos, pensam que se tratava de drogas e sexo. O que houve foram três dias de paz, música e amor. Não houve brigas ou assassinatos – e eram tempos conturbados, com a Guerra do Vietnã e [os EUA gastando dinheiro com] o homem na Lua. Mas não tínhamos crack, cocaína ou heroína naquele festival. As pessoas estavam usando maconha e ácido. Era um tempo de inocência. Eles se uniam e se ajudavam porque a comida e a água estavam acabando. Havia muita camaradagem e muita gente fazendo amor, claro. Era muita gente bonita tirando a roupa e se banhando no lago, então eles faziam amor.
G1 – De que forma o seu livro e o filme de Ang Lee podem ajudar a jogar uma nova luz sobre o festival? Tiber - Minha história pessoal não tinha sido contada antes. São 40 anos [desde o festival] e ninguém sabe sobre isso. Estou recebendo ligações [de jornalistas] do mundo para explicar como ninguém tinha ouvido falar sobre mim quando se fala em Woodstock. E eu digo: não sei por que. Acho que deve ser por homofobia, eu sou gay e tenho dado entrevistas desde o aniversário de 20 anos [do festival]. Em cada uma delas, nunca mencionavam que foi um homem gay que salvou Woodstock, ignorava-se isso. Então, quando conheci Ang Lee, que tinha feito "O segredo de Brokeback mountain", o filme sobre os dois caubóis gays que ganhou um Oscar, eu queria ter certeza de que Hollywood tinha mudado, que o filme seguiria o livro. E ele me certificou disso e cumpriu.
O filme é a minha história, a história de um jovem gay que tem um sonho e que trabalha para realizá-lo. Mostra que nem todos os gays são como os filmes mostravam - viciados em drogas, com distúrbios psicológicos, assassinos, lunáticos ou pior. Fala de um homem decente, bem-educado, com uma vida de trabalhador. É um filme muito bonito e engraçado, uma comédia. Quando olho para trás, para todos esses acontecimentos, os relato de uma forma divertida, mas na época era uma coisa caótica, deu muito trabalho. Eu estava frenético e as coisas estavam dando errado.
G1 – Fala-se muito da importância de Woodstock para a liberação sexual, mas em especial de héteros. Qual foi o papel desse evento para o movimento gay? Tiber - Woodstock nos liberou. Devia haver pelo menos uns 50 mil ou talvez 100 mil gays e lésbicas no festival. De repente, eu estava cercado pela minha nação. Gays e lésbicas eram a segunda nação de Woodstock. Havia amor livre por todo lado, fiz amigos ali também e alguns namorados.

Foi só então que eu me senti parte da raça humana, porque até ali eu achava que era o único [gay]. Cresci cercado por famílias, casais de héteros, meninos e meninas, me sentia totalmente isolado. Mas, de repente, pelas seis semanas em que fiquei envolvido com o festival, havia gays e lésbicas, e me relacionava com eles, me senti respeitado, ganhei autoestima e senti que era alguém que tinha algo a contribuir com a sociedade. E muitas pessoas ali, tanto gays quanto héteros, perceberam que poderíamos ter um mundo em que as pessoas se juntavam sem brigas, sem problemas de raça ou cor ou crença. Podiam se tornar uma só nação. E foi isso que ocorreu. Infelizmente, no final daquele verão, quando o festival acabou e todo mundo foi embora, foi o fim. Só alguns anos depois se começou a falar sobre isso e perceber o que realmente aconteceu. Agora há um foco enorme no aniversário de 40 anos, Woodstock se tornou um grande ícone.

G1 – Diria que, politicamente, Woodstock foi a vitória definitiva dos gays?
Tiber - Não. Foi uma vitória. Agora, mês passado, 40 anos depois, o presidente Obama convidou organizações de gays e lésbicas à Casa Branca para discutir direitos civis, casamento e igualdade para gays e lésbicas nesse país. Quarenta anos depois, a Focus Features – mesma produtora de “Taking Woodstock” – lançou o filme "Milk" [sobre o político e ativista gay de São Francisco Harvey Milk], reacordando a comunidade gay, que não sabia que pessoas morreram para poder ser livres, sair na rua e segurar na mão de um namorado ou de uma namorada sem ser preso. Eles não sabiam. E agora sabem. A comunidade jovem de gays e lésbicas por toda a América e também em todo o mundo está se inspirando para tentar conquistar direitos iguais – não só casamento, mas direitos como qualquer outro cidadão. Não sei como é no Brasil, mas espero que esteja igual.
G1 – De volta ao rock’n’roll, o filme de Lee mostra poucas cenas do palco de Woodstock. Pessoalmente, você conseguiu ver as bandas e de que shows mais gostou? Tiber - O filme não mostra as bandas porque não é sobre isso. É sobre a minha jornada. E eu não fui muito ao festival, estava muito ocupado cuidando dos meninos e meninas que tinham se machucado ou que estavam com ‘bad trips’ de ácido. Mas eu podia ouvir a música alta do lugar onde estava. E consegui chegar ao lugar do show uma vez, quando um policial me levou em sua moto. Consegui ir ao backstage e conhecer Janis Joplin, Jimi Hendrix, Santana, Joan Baez. Muitos ficaram no meu hotel, El Monaco.
G1 – Esses artistas também foram ao seu hotel? Tiber - Sim, eles vinham de moto ou a cavalo porque era o único lugar para se tomar um banho quente e que tinha uma piscina. Alguns ficaram lá, outros tinham trailers. Mas meu hotel era o quartel-general para Woodstock, havia 5.000 pessoas que trabalharam no festival circulando pelo hotel. Nem todos dentro: só 300 nos quartos, o resto em redes, carros, trailers, barracas e tudo o mais. E de fato conheci muitos deles. Minha favorita era Janis Joplin. Eu não conhecia ninguém dessa gente, não eram do meu mundo, mas os discos dela tocavam nas boates gays. Fui no backstage e lá estava ela bêbada, chapada, caindo no chão e eu a segurei nos meus braços. Conversamos – eu também estava chapado.
Conheci também Jimi Hendrix, Richie Havens. Eu estava muito alegre, porque era outro mundo para mim. Agora, tenho estado no showbusiness por todos esse anos, conheço muitas celebridades, mas naquela época não, então era incrível para mim. Eu me sentia realizado por eles me receberem bem. Quando eu dizia quem era, eles me abraçavam como se fôssemos grandes amigos. Foi maravilhoso.
G1 - O contrato de Woodstock foi realmente firmado à base de leitinho achocolatado, como Ang Lee sugere no filme? Tiber – Max Yasgur [o fazendeiro local e amigo de Tiber que alugou sua propriedade para o festival] era famoso pelo leite que produzia – e também pelo leite achocolatado, que foi oferecido para todo mundo. Era tão especial, era melhor que uísque. Então, eles beberam leitinho achocolatado, sim.
G1 – Há um caso curioso no livro e no filme. Você relata que, no momento em que desceu do helicóptero, Michael Lang olhou e o chamou pelo nome, dizendo que eram amigos de infância. Mas você diz que não o conhecia. Quem está falando a verdade? Tiber – Eu não o conhecia! Há uma diferença de 10 anos entre a gente. Eu tinha 34 [em 1969] e ele 24, não sei por que ele disse isso. Ele morou na mesma rua que eu, mas em gerações diferentes. Ele disse que me conhecia, mas não sei por que. Perguntei a ele na semana passada, na pré-estreia do filme, e ele apenas gargalhou e disse: "cool, man, groovy!" [gíria da época que significava algo como: fica frio, cara, legal). É o que ele sempre diz! Tivemos uma conversa logo depois que ele viu o filme, ele me abraçou e disse: "é tão bonito, um filme maravilhoso! Parabéns a você e a todos nós". Então, acho que, para mim, ele já falou mais do que "cool" e "groovy". E até me apresentou a sua esposa, que eu não conhecia.
G1 – Você retornou a Bethel nas décadas seguintes a Woodstock? Tiber - Voltei umas quatro ou cinco vezes. A fazenda foi dividida em duas partes. Uma tem o museu [em homenagem a Woodstock, inaugurado em 2008] e o centro de artes, e a outra é a casa da fazenda e o celeiro, que um amigo meu comprou. Então, visitei meu amigo. Ele promoveu alguns shows de reunião nos últimos anos. Cerca de 20 mil pessoas foram. Richie Havens, Michael Lang, Country Joe também foram. Foi um bom tempo. Mas tenho uma outra vida, não tenho nada a fazer lá hoje.
G1 - O que está fazendo agora? Tiber - Sou escritor, comediante, faço palestras em universidades de todo o mundo falando de Woodstock, dou aconselhamento a jovens. E estou com um livro novo, que sai em abril, chamado "Palm trees in the Hudson River - The Mafia and Judy Garland". É um livro de memórias sobre o período em que convivi com Judy Garland [atriz de “Mágico de Óz”] em 1967. É uma prequela a Woodstock, terminei um dia antes que conheci Ang Lee. Seria ótimo fazer outro filme dali.
G1 – No filme, seu relacionamento com a sua família parece um misto de amor e repressão, mas nunca de ódio. Quando não conseguia agradar seus pais, você parecia apelar para a ironia e para algo que você chamou de “a maldição dos Teichberg” – o sobrenome Tiber, na verdade, é uma abreviação de Teichberg. Isso mudou ao longo dos tempos?
Tiber - Meus pais morreram. Minha mãe morreu em 1991, aos 97 anos, e meu pai morreu um ano depois do festival. Ele estava muito doente. Ele me abraçou lá e disse: “você me fez tão feliz”. Mas não pôde dizer “eu te amo”. Ele nunca disse. A mamãe também não, ela estava sempre ocupada contando dinheiro. Eram ambos lutadores, que vieram para a América na Primeira Guerra como refugiados. Não falavam a língua, trabalharam duro a vida toda e nunca se divertiram. Meu pai se divertiu pela primeira vez em Woodstock, minha mãe, nunca. Eu nunca me dei bem com ela até o dia em que ela morreu. Ela nunca aceitou a mim ou a meus namorados - eu tinha um namorado belga, ficamos juntos por 27 anos, e ela nunca soube o seu nome, sempre esquecia. Uns dias antes de morrer, meu pai veio a mim e disse: "eu quero que você vá em frente e tenha uma boa vida com seu amigo, sei quem você é, e tudo bem por mim." E eu fiquei chocado em ouvir isso.
E a maldição Teichberg se refere ao fato de que minha família era toda de perdedores. Minha mãe nunca foi boa comigo, nunca me amou, nunca me abraçou, nunca demonstrou nada. Era uma família disfuncional e por isso eu chamava de uma maldição. O filme não mostra desse jeito porque não é um documentário. Se mostrassem tudo no livro seria um filme de 40 horas.
G1 - Diria que, hoje, está livre da maldição?
Tiber - Ah, sim, sim, claro. Construí minha própria vida, fui aceito no mundo todo, em Paris, Bruxelas, Roma, Amsterdã... Estudei com [os artistas] Mark Rothko e Kurt Seligman. Quando comecei a sair, fiquei amigo de Truman Capote, Tennessee Williams , Rock Hudson, Marlon Brando. Conheci muitas pessoas ao longo dos anos, atores, artistas. Vivi uma vida muito rica. E me livrei da maldição, isso é certo.
Diego Assis Do G1, em São Paulo - 15/08/2009

ALAN TURING - O PAI DA COMPUTAÇÃO

Britânicos buscam pedido de desculpas a cientista gay

Uma petição enviada ao premiê Gordon Brown, que já computa quase 4.000 assinaturas em duas semanas, exige que o governo britânico reabilite a memória de um dos mais importantes cientistas do país --e que se desculpe por tê-lo submetido a um tratamento hormonal que acabou por levá-lo ao suicídio.
O matemático Alan Turing, morto em 1954 aos 41 anos, é considerado por muitos o pai da ciência da computação e da inteligência artificial. Ainda nos anos 1930, provou que não há instrumento capaz de fazer qualquer tipo de cálculo e lançou o conceito de uma máquina que conseguisse fazer todos aqueles que fossem possíveis, seguindo instruções humanas. Em 1938, Turing foi recrutado pelo departamento de análise criptográfica do governo. No ano seguinte, quando estourou a Segunda Guerra Mundial, ele passou a dedicar-se integralmente ao projeto, conduzido secretamente na mansão de Bletchley Park, em Bucking-hamshire, perto de Londres.
Foi Turing que conseguiu decifrar o código da máquina de criptografia Enigma, que a Alemanha de Hitler usava para mandar mensagens militares cifradas durante a guerra. Graças ao sistema de decodificação que ele criou, o Reino Unido passou a interceptar as mensagens e localizar os submarinos alemães, atacando-os e revertendo o avançar da guerra.
Mas seu trabalho era secreto, e os feitos de Turing passaram sem aclamação na época.
"Alan Turing foi o maior cientista da computação já nascido no Reino Unido", diz o texto da petição, que ficará aberta para assinaturas no site do governo até janeiro de 2010 (só cidadãos britânicos podem assinar). "Ele era também gay", prossegue o texto.
Em 1952, quando o matemático foi preso, ser homossexual era crime. A alternativa à prisão era a castração química -e Turing aceitou receber injeções de estrógeno para neutralizar sua libido. Mas as aplicações do hormônio sexual feminino deformaram-lhe o corpo e desequilibraram seu organismo. Publicamente humilhado, o matemático perdeu o acesso de segurança aos laboratórios onde trabalhava porque, sob a mentalidade da Guerra Fria corrente, homossexuais eram alvo fácil de chantagem -logo, uma brecha na segurança.
Dois anos depois, Turing morreria ao comer uma maçã envenenada, no que foi declarado suicídio. A biografia "Alan Turing: o Enigma", do matemático Andrew Hodges (1983), e o filme "Quebrando o Código" (1986) contam sua história.
"O governo britânico deveria se desculpar a Alan Turing e reconhecer que seu trabalho viabilizou em larga medida o mundo em que vivemos e nos salvou da Alemanha nazista", diz a petição, aberta pelo programador John Graham-Cumming.
A campanha foi abraçada por nomes como o escritor Ian McEwan e o biólogo Richard Dawkins, para quem Turing deveria ter sido "condecorado". "Em vez disso, esse gênio excêntrico e delicado foi destruído por um "crime" que não prejudicou ninguém", disse ao jornal "The Independent".
LUCIANA COELHO da Folha de S.Paulo, em Genebra - 20/08/2009

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

CACHAÇA ARCO-ÍRIS (RAINBOW)-DA CACHAÇARIA ERVA DORCE/SALINAS


INFORMES DO NEHOM: FÓRUM REGIONAL MINAS SEM HOMOFOBIA

O Fórum Regional ‘Minas sem Homofobia’ foi realizado no auditório do prédio 1, do Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, no dia 25 de junho a partir das 8 horas da manhã, dentro da programação da 6ª Mostra de Homocultura"Um Stonewall na Homofobia", evento promovido pelo Nehom/Unimontes(22 a 27 de junho). Na abertura, participaram da mesa a Pró-reitora de Extensão Professora Marina Ribeiro de Queiróz, que destacou a importância desse evento na Universidade e região e representantes da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social-Região Norte e o Coordenador do Nehom, além de representantes de entidades afins, como o GRAPPA(Grupo de apoio e prevenção aos portadores de AIDS), MGG(Movimento Gay dos Geraes), GTHhu(Grupo de Trabalho de Humanização do Hospital Universitário da Unimontes), ASCIV(Associação SócioCultural Igor Vive). Aconteceu também uma palestra “Direitos e Legislação LGTB” e apresentação do Plano Minas Sem Homofobia, ministrada pela acessor do Centro de Referência de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais de Minas Gerais, Rodolfo Compart.
MINAS SEM HOMOFOBIA - FÓRUM RGIONAL NORTE
MONTES CLAROS/UNIMONTES/JUNHO/2009

PLANO MINAS SEM HOMOFOBIA
Plano mineiro de combate à violência e discriminação contra lésbicas, gays, bissexuais travestis e transexuais.

Centro de Referência de Gays Lésbicas Bissexuais, Travestis e Transexuais do Estado de Minas Gerais / Criado pela Lei 14.170/02

Avenida Álvares Cabral, 1342 – Lourdes
Belo Horizonte – MG Fone/Fax: (31) 3292-5397

crglbttt@social.mg.gov.br
walkiria.crglbttt@social.mg.gov.br
rodolfo.crglbttt@social.mg.gov.br
nehom@unimontes.br

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

INFORMES DO NEHOM: 6ª MOSTRA DE HOMOCULTURA "UM STONEWALL NA HOMOFOBIA"

28 de junho – Dia Internacional do Orgulho Gay

A cada ano, todo o mês de junho vê a celebração, em paradas e eventos ao redor do mundo, do Orgulho Gay. O início de toda essa história está lá em 1969, em Nova York, mais precisamente no bar Stonewall. Este bar se tornou o centro nervoso do que conhecemos hoje como movimento gay. Foi o marco zero da luta dos homossexuais por direitos civis e liberdade individual. No dia 28 de junho de 1969, cansadas da extorsão e da humilhação a que vinham sendo submetidas, as cerca de 400 pessoas que estavam lá naquela noite resolveram enfrentar a polícia com pedras, socos e o que mais estivesse ao alcance. A notícia se espalhou pelo país rapidamente (com cobertura dos principais jornais nova-iorquinos), e mais confrontos aconteceram nos dias seguintes, com cada vez mais gente aderindo à causa a favor dos gays. O principal legado do evento Stonewall foi despir os gays da vergonha que sentiam e unir a comunidade gay (lgbt - lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) em torno de um único objetivo: a luta contra a discriminação e a favor de direitos iguais. No ano seguinte, a primeira passeata gay foi organizada e cerca de 5 mil pessoas compareceram. Desde então este número só faz crescer. Hoje, em São Paulo, temos a maior Parada Gay do planeta, com mais de quatro milhões de pessoas, anualmente.

Ronilson Gervasio de Brito
Coordenador do nehom

17 DE MAIO: DIA INTERNACIONAL DE COMBATE À HOMOFOBIA

Falar sobre as homossexualidades, que, em outras civilizações e povos da antiguidade, faziam parte do calendário das relações do cotidiano e eram vistas como arte, submete-nos ao mesmo tempo a repensar como essas práticas tornaram-se incompreendidas nesses dois mil últimos anos; condicionadas em opressão, perseguição, preconceito, intolerância e incitando a martírios psicológicos e físicos, homossexuais foram e ainda são sub-humanamente tratados. Esse império homofóbico, marcado na história pela cultura da homofobia religiosa como pecado, pela homofobia jurídica como crime e, por último, pela homofobia médica como doença, ainda é marca de um ciclo de violência cotidiana aos direitos humanos. Essa Mostra Cultural tem por objetivo dar visibilidade e promover reflexão sobre esse triângulo homofóbico existente em nossa sociedade. Que essa doença do medo, da aversão ou do ódio irracional pelos homossexuais e pela homossexualidade, que é a homofobia, possa ser atenuada ou extinta do seio de nossas instituições sociais, como a família, a escola e a igreja, do trabalho ou de locais públicos, através da informação a tod@s e de políticas públicas afirmativas que contemplem a comunidade LGBT(lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).

Ronilson Gervásio de Brito
Coordenador do nehom

INFORMES DO NEHOM: MOSTRA CULTURAL "TRIÂNGULO DA HOMOFOBIA"


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

NEHOM - NÚCLEO DE ESTUDOS SOBRE HOMOCULTURA/UNIMONTES



O preconceito acorrenta a alma e limita o SER

Idealizado por Ronilson Gervasio de Brito, Bacharel em Direito e Licenciado em Filosofia, com especialização em Filosofia e Direito Público e Privado, pela Unimontes, ativista e pesquisador dos Direitos Humanos dos Homossexuais, Servidor dessa Universidade, o projeto de criação do Núcleo de Estudos sobre Homocultura (NEHOM) foi aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Unimontes, em sessão plenária no dia 28 de agosto de 2008. Os principais objetivos dessa iniciativa é de desenvolver estudos interdisciplinares sobre orientação sexual (referência à capacidade de cada pessoa de ter uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero diferente - heterossexuais, do mesmo gênero –homossexuais, ou mais de um gênero - bissexuais, assim como ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas), identidade de gênero (a profunda experiência interna sentida e individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo -que pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros- e outras expressões de gênero, inclusive vestimenta, modo de falar e maneirismos, casos mais específicos dos travestis e transexuais) e a homocultura (políticas afirmativas sobre a cultura dessas homossexualidades – gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais). Destaca-se aqui a fomentação de ações que favoreçam a pesquisa, o ensino e a extensão, bem como o intercâmbio de experiências com outros órgãos e instituições, e a divulgação desses conhecimentos à sociedade em geral, possibilitando assim a reflexão sobre a homofobia (desvalorização cultural das homossexualidades -ao terem sua sexualidade desacreditada, os homossexuais estão sujeitos à vergonha, molestação, discriminação e violência, enquanto lhes são negados direitos iguais e proteção igual, todas as negações fundamentais de reconhecimento. Gays e lésbicas também sofrem injustiças econômicas sérias: podem ser sumariamente despedidos de trabalho assalariado e têm os benefícios de previdência social baseados na família negados. Mas longe de estarem arraigados na estrutura econômica, esses derivam de uma estrutura cultural-valorativa injusta”, FRASER, 2001) e a mudança de comportamento da sociedade em relação às homossexualidades.
Ao propor a criação do Núcleo de Estudos sobre Homocultura (NEHOM), em consonância ao Programa Brasil Sem Homofobia – Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLBT (hoje, após resolução da I Conferência Nacional realizada em 2008, LGBT - Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais) e de Promoção da Cidadania Homossexual, lançado pelo governo federal no ano de 2004, com a participação de mais de 10 ministérios, e também do governo estadual através do Plano Minas Sem Homofobia, a Universidade vem confirmar o compromisso de difundir a sua missão social – “contribuir para a melhoria e transformação da sociedade, atender as aspirações e aos interesses de sua comunidade”, tendo como princípio implantar, no ambiente acadêmico e na sociedade, o respeito à dignidade humana, a justiça social, o combate à discriminação, a valorização da diversidade, direitos estes garantidos a qualquer cidadão pela Constituição Federal. Sabendo que o ambiente educacional é um local privilegiado para desenvolver uma consciência crítica e práticas pautadas pelos direitos humanos e pelo reconhecimento da diversidade, neste sentido o Núcleo de Estudos sobre Homocultura (NEHOM) vem ampliando e democratizando o acesso à cultura, às novas concepções da história da cultura gay, dos direitos humanos e da homofobia . Mostrando essa diversidade sexual presente no cotidiano, de pessoas “comuns” a “personalidades” que se destacaram e destacam em diversas áreas no cenário regional, nacional e internacional, vivendo em seu dia-a-dia, as dificuldades e conquistas desta comunidade, redimensiona-se novos olhares e perspectivas na mudança de atitude e comportamento ao público alvo de nosso projeto. Assim, O NEHOM busca estimular o debate sobre essas teorias e práticas, bem como as políticas da diversidade sexual entre as imagens e grafias da homocultura.
As ações da Unimontes, através do Núcleo de Estudos sobre Homocultura, visam o atendimento do público em geral, em parceria com OGs e ONGs regionais que também atendem ao público específico LGBT. O atendimento ao público em geral realizado pelo Núcleo de Estudos sobre Homocultura, vem sendo realizado através de Palestras, Debates, Mesa-Redonda, Mostras Culturais, Seminários, Fóruns, Exibição de filmes e vídeos sobre a temática da diversidade sexual (Cinehom) em eventos promovidos pela Unimontes e outras Universidades públicas e privadas de Montes Claros e regiões do Norte de Minas.
O Núcleo também vem contribuindo com o auxílio aos acadêmicos da Unimontes e de outras Universidades da região, que se interessam por realizar pesquisas na área da diversidade sexual. Os acadêmicos são auxiliados pelo Núcleo nos trabalhos de Conclusão de Curso, tais como Monografias e Projetos. Este auxílio é prestado pelos professores especialistas, mestres e doutorandos que são professores da Unimontes e integrantes do NEHOM. O número de pessoas beneficiadas diretamente pelo Núcleo de Estudos sobre Homocultura até a presente data é de aproximadamente 800 pessoas. O Núcleo conta com a participação de 06 professores (Antônio Carlos Ferreira - Psicólogo; Carlos Caixeta Queiroz - Antropólogo; Letícia de Freitas C. Freire - Socióloga; Zilmar Santos Cardoso - Pedagoga; Ronilson Gervasio de Brito, Coordenador do Núcleo) e alguns acadêmicos da Universidade Estadual de Montes Claros.
O público em geral e especialmente acadêmicos e professores que participaram dos eventos realizados pelo NEHOM, em sua grande maioria, manifestaram o desconhecimento e/ou a falta de preparo para lidar com as questões relativas à temática das homossexualidades e da homofobia, depoimento relatado principalmente nos debates sobre a temática que se estendem às salas de aulas.
Os eventos realizados pelo NEHOM, são amplamente divulgados pela mídia televisiva e impressa, atingindo assim indiretamente a um público constituído por milhares de pessoas de toda a região Norte eNoroeste de Minas, vales do Jequitinhonha e do Mucuri.
Contatos: (38) 3229.8306 ou nehom@unimontes.br

terça-feira, 18 de agosto de 2009

OS GAYS E SEUS PAIS

Em uma lista de professores da internet, com o título “professor público”, um rapaz colocou a notícia de um pedido à Justiça, feito no Estado de Minas Gerais, para que travestis (ou qualquer outra pessoa em condição similar) possam ser tratados na escola pelos seus “nomes sociais”, e não pelos nomes de registro. A idéia é simples e justa: ninguém que é conhecido por “Valéria” quer ser chamado de “Francisco”, ninguém que é visto como “João” gosta de ser tratado por “Maria”. O “nome social” é o nome adotado por uma pessoa, e deve ser respeitado. É como o caso do Presidente da República que, para não ser confundido na cédula, alterou seu nome, colocando o “Lula” no interior do “Luis Ignácio da Silva”. O Presidente fez isso de maneira legal. Mas, no caso de travestis e pessoas em condições similares, muitas vezes a possibilidade de trocar de nome não se faz presente, e a situação escolar já os constrange antes disso.
O triste da história foi ver que na mesma lista, uma pessoa que se autodenominou professor, avaliou o pedido à Justiça (ao qual me referi) como “pura sem-vergonhice”, afirmando que “homem tem que ser homem e mulher tem que ser mulher”. Não perguntei para a tal pessoa o que era “ser homem” e o que era “ser mulher”, pois o que viria dela, tenho certeza, não seria útil para ninguém. No entanto, a forma com que tal pessoa se comportou, trazendo à tona um jargão que só ouço na boca de extremistas de direita (não raro, sempre querendo se passar por liberais), trouxe minha digitação para um campo que, agora, no mês de agosto, é um tema da mídia: dia dos pais. O que tem a ver uma coisa com outra? Ah! Muito!
Fruto da escola pública dos anos 50 que, enfim, chegou viva até meados dos anos 60, eu nunca passei pela experiência de olhar para o lado e, então, encontrar um coleguinha chamado Mário maquiado com o batom da Valquíria. Todavia, quem disse que isso não é a realidade de hoje? Tiramos a homossexualidade da condição de “doença”. Fizemos da preferência sexual e, junto com ela, a opção pela identidade social geral, uma questão de decisão individual. Chegamos, inclusive, a promover leis de proteção a tais opções, como extensão básica de direitos liberais em uma sociedade democrática. Temos caminhado duramente nisso tudo. Ao mesmo tempo, temos contado com o apoio de toda a plêiade de grupos que se encaixam no guarda-chuva do título das paradas do “Gay Proud”, no sentido de não deixar com que essa luta se torne algo vingativo e “sem espírito”. Assim, em termos apropriados, quando do tempo do filme “Filadélfia” tínhamos de nos conter e não usar a expressão “bicha louca”. Mas, já nos tempos em que estamos vivendo, o do “Breakfast in Pluto”, qualquer amigo homossexual com quem converso usa a expressão “bicha louca” sem achar ofensivo. O movimento gay fez mais que outros movimentos sociais neste aspecto semântico: conseguiu vitórias sem precisar, com isso, vestir terno e gravata, perder o “espírito”. Nesse sentido, o movimento gay tem muito a ensinar ao movimento negro e ao movimento feminista, com certeza!
O que tem a ensinar? Simples: é preciso ser inteligente, para tudo, e por isso mesmo, antes de qualquer decisão é necessário não deixar de lado a observação dos detalhes. Nem toda expressão é, por si mesma, pejorativa ou elogiosa. A língua se faz no contexto. Ela é contexto, nada além. Por isso, a questão do “nome social”, uma vez tendo estabelecido o contexto, é uma questão válida. Ora, mas a questão desse nome social ser algo que foi pedido para ser adotado na escola trouxe aqui o meu tema, o da questão dos pais.
Os gays não são gays adultos. O grande drama de quem tem identidade social de minoria não é confeccionado na vida adulta e sim quando essa identidade não se configurou plenamente. É nessa hora que o problema realmente é um problema. É nessa hora que o massacre da maioria atinge a minoria. Caso nosso desejo seja o de viver na democracia, temos de entender que democracia não é o regime da vontade da maioria. A democracia é o regime das decisões da maioria e do respeito aos direitos básicos – de expressão, de ir e vir, de moradia, de identidade etc. – das minorias. Então, é na hora do início da construção da identidade social de cada indivíduo que a situação é difícil – para todos nós. Ora, para quem vai assumir identidade de minoria, mais difícil ainda.
Uma boa parte dos gays que conheço tentou alguma forma de suicídio na adolescência. Uma parte dos que levaram adiante isso, o fizeram já na idade adulta. O que determinou isso? Na maioria dos casos, a gota d’água foi a relação endurecida com o pai. No mês de agosto, em que comemoramos o Dia dos Pais, deveríamos de começar a pensar em uma revolução quanto ao que é ser pai ou não.
O que é necessário para ser pai? Ser pai é, antes de tudo, ser alguém aberto ao cosmos. Para ser pai é fundamental ter a consciência de que não se é um deus. O que um pai mais deseja? A felicidade do filho? Não, infelizmente, os pais são poços de egoísmo disfarçados de boas intenções e de capas e capas de altruísmo. O que os pais querem é plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho, contanto que a árvore seja regada pelo filho, o livro seja a história de quanto o filho é a cara do pai e, por fim, que o filho seja tudo que o pai não foi, mas que gostaria de ter sido. Essa projeção mata a sociedade. A pessoa que quer ser pai deveria, antes de ter filhos, olhar para o espelho e falar: não sou deus, portanto, o que vier como filho, não poderá ser alterado por mim, e terei de não só aceitar, mas amar. Quem não está preparado para tal, não deve ter filhos. Infelizmente, ninguém olha para esse espelho.
Boa parte dos pais se modifica no decorrer dos anos. Aos poucos, vários percebem que o “Édipo” era um brincadeira séria do Freud, que o filho é uma pessoa singular, que precisa seguir um caminho único, dele próprio. Ninguém quer um filho no caminho do crime. Dizem alguns que nem mesmo os criminosos que se orgulham do crime querem isso. Mas, até nessa situação extrema, uma boa parte dos pais aprende a amar os filhos. Uma parte dos pais começa a perceber, às vezes tardiamente, que na diferença dos filhos, eles são muito iguais aos pais.
O filho ou a filha “gay” não deveria ser amado ou amada “apesar de gay”. Está na hora de invertermos a seta e amarmos os filhos pelo desempenho social que eles prometem em favor de nossa utopia de uma sociedade em que seremos “versões melhores de nós mesmos”. Veja, não estou pedindo amor incondicional. Estou pedindo bem menos! Sendo assim, imagino que na hora em que um filho ou filha se põe na defesa de sua identidade social, isso pode e deve ser um orgulho para o pai. O verdadeiro pai é aquele que consegue dar um passo além de sua própria pele semântica e, então, ver que seu filho, ao “sair do armário” e se redescrever como gay, antes de tudo, é uma pessoa de coragem. Mesmo nos tempos atuais, uma pessoa assim ainda é uma pessoa de coragem – e muito! Pois, por mais que existam leis contra a homofobia, quando alguém se redescreve como gay e, então, põe no jogo social uma nova semântica em relação a si mesma, o que se está dizendo ao mundo é um recado filosófico: eu sou suficientemente inteligente e corajoso para abraçar a contingência. Nos termos de Nietzsche: eu sou aquele que vive o amor fati.
A noção de amor fati, em Nietzsche, está longe de ser a “resignação” de Max Weber. Amor fati é amor aos fatos, amor ao destino. Não se ama o destino aceitando-o. Não se ama os fatos tomando-os como pedras na cabeça atiradas por Saturno. O amor, neste caso, é o amor de poder viver e, então, passar pelas experiências que só os vivos passam. Uma vez gay, viver isso é uma experiência fantástica. Mas, é algo de coragem, pois se o desconhecido se abre: o que acontecerá comigo? Serei menosprezado? Terei dificuldades na escola e no emprego? E meu pai? Sim, são essas as questões que o adolescente enfrenta. Principalmente esta: e meu pai? Diferente de outro adolescente, que vai cumprir seu “Édipo” em “em CNPT”, o adolescente gay sabe, muito bem, que ele pode sucumbir. Ela sabe que poderá não suportar e, então, em dado momento, terminar como outros seus colegas, no suicídio.
O pai deveria ser o primeiro a jamais deixar isso ocorrer. O pai dá a vida através do espermatozóide, deveria, então, mantê-la. Não deveria tirá-la. Vi pais vindos da zona rural, completamente brutalizados pela vida, terem orgulho de seus filhos gays. Vi pais urbanos, escolarizados, colocar sob tortura e morte um filho gay. Está na hora de uma revolução na idéia de ser pai, para além da conversa de “pagar pensão”. Deveríamos, a partir deste agosto de 2009, ver o quanto temos a coragem de participar da revolução semântica de um filho nosso que adotou uma nova identidade social. Deveríamos começar a entender aquilo que Stan Lee tentou ensinar com “X Men”. Será que nem histórias em quadrinhos conseguimos entender? Será que sempre seremos pais pouco inteligentes – e covardes?

Paulo Ghiraldelli Jr, filósofo
http://ghiraldelli.wordpress.com

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Hoje (12/08/09) li este texto e achei importante destacá-lo aqui:
"Carta aberta a Rozângela Justino, a psicóloga que afirma curar a homossexualidade"
http://bloglog.globo.com/jeanwyllys/
Enquanto a ampla maioria dos homossexuais (principalmente dos gays) se diverte em baladas e em paraísos artificiais, alienada das sérias questões político-sociais que envolvem o coletivo do qual faz parte, uma onda neoconservadora contra lésbicas e gays tem se levantado sorrateira e silenciosamente na mesma proporção do crescimento das paradas do orgulho gay. A mais recente expressão desta onda é a “psicóloga” Rozângela Justino, que está nas páginas amarelas de Veja desta semana. Há algum tempo ela vem fazendo barulho. A princípio, decidi ignorá-la por não querer gastar minhas poucas velas com um defunto tão barato. Porém, como os meios de comunicação vêm dando espaço para ela, ainda que para questioná-la, decidi escrever-lhe uma carta aberta:

Rozângela Justino, eu não a conheço pessoalmente e não faço a menor questão de conhecê-la. Mas, como a senhora fez ataques públicos ao coletivo do qual faço parte, logo, a mim, por meio da revista Veja, eu sou obrigado a responder aos mesmos também de forma pública. Vou começar pela comparação que a senhora fez entre militância gay e Nazismo. Ou a senhora é cínica ou é absolutamente ignorante acerca do mal que o Nazismo causou aos homossexuais. Prefiro apostar que a senhora seja cínica, uma vez que sua referência ao Nazismo e o esforço em associá-lo ao movimento homossexual são tentativas canhestras de conquistar a opinião pública, já que a senhora sabe que, no imaginário popular, o Nazismo se confunde com o mal. Não, minha cara, a militância gay não é Nazismo.
Se há algum nazista em questão, este é a senhora. Seus comentários referentes à homossexualidade materializam um moralismo e um puritanismo odioso em relação à sexualidade e a modos de vida gay. Logo, seus comentários são bem parecidos com o discurso dos detentores da ordem moral e social e dos apóstolos da religião, da família tradicional e da opressão às mulheres e aos homossexuais. Ou seja, seus comentários são bem parecidos com o discurso das “direitas” religiosas e com o discurso das demais “direitas” (entenda por “direita” os representantes do pensamento e/ou do movimento político que se afina com “restaurações” conservadoras, nacionalismos e fascismos). E qual o discurso das “direitas” religiosas? Ora, aquele que expressa um horror em relação aos homossexuais e certo nojo pela “promiscuidade sexual”, independente de qual seja a orientação sexual do “promíscuo” - um discurso que esteve presente no Nazismo (sim, a gente não pode esquecer jamais que o Nazismo e os fascismos se expandiram e fascinaram multidões também porque denunciaram as cidades grandes como o lugar dos excessos sexuais dos gays e lésbicas e, logo, como espaço de corrupção de corpos e almas; a gente não pode esquecer jamais que o Nazismo era uma empresa de “purificação” não só racial, mas, também sexual). Portanto, expressão do Nazismo ou retorno ao mesmo são suas idéias. Não queira convencer os ingênuos do contrário!
É possível que os oprimidos se identifiquem com a ideologia de seus opressores mesmo sem terem consciência disso. É por isso que podem existir negros racistas e homossexuais moralistas. E é por isso também, minha sé possível, que muitos homossexuais que não resistem às pressões e violências diversas impostas pela ordem em que vivemos tenham procurado seu “consultório” em busca de “cura” para a homossexualidade. A este comportamento nós chamamos de homofobia internalizada. Se a senhora fosse uma psicóloga competente e ética, saberia que os objetivos de uma terapia psicológica não podem ser definidos em termos de mudanças de comportamento do paciente. A cura no sentido de restabelecimento do estado anterior a uma doença é um privilégio da medicina e só existe para patologias provocadas por vírus, bactérias ou fungos ou por disfunções orgânicas e hormonais ou, ainda, para certos tipos de câncer. Homossexualidade não é doença, logo, não precisa de cura.
Sabe, Rozângela, faltam-lhe argumentos. Vocês, fanáticos fundamentalistas ou cínicos exploradores da fé e ignorância alheias, nunca têm argumentos consistentes além do dogmatismo. Seu bacharelado em Psicologia obtido no Centro Universitário Celso Lisboa de nada lhe serviu ou serve já que você recorre a “verdades” que contrariam os princípios das ciências, inclusive daquela que é a base de seu curso, a Psicologia. Aliás, a qual escola ou corrente teórica da Psicologia a senhora está associada? A senhora não diz, por quê? Ora, porque o que a senhora faz não é Psicologia, mas, doutrinação religiosa.
Chega a ser risível sua referência a Michel Foucault porque está claro que a senhora nem sua fonte – Claudemiro Soares - compreenderam o pensamento do filósofo francês, que morreria de infarto, se vivo estivesse, ao ver seu pensamento articulado por uma fascista psicótica (sim, qualquer psiquiatra concordará comigo de que sua crença de que recebeu um chamado de Deus por meio do disco de Chico Buarque é sintoma de um funcionamento mental psicótico, em que a senhora toma, como concretos ou reais, elementos apresentados por sua percepção; o chamado divino a que a senhora se refere não é efetivamente real, concreto, mas, a senhora o toma como tal assim como o fazem os psicóticos com seus delírios e alucinações). Sua referência a Focault macula um pensamento muito mais complexo e distante de suas posturas neoconservadoras e quer, por meio de uma aparente ilustração acadêmica, intimidar feministas e homossexuais orgulhosos de sua orientação a se calarem para não questionar o mundo comum no qual devemos viver.
O que eu posso lhe dizer - a partir das contribuições de Freud, Melanie Klein, Lacan, Foucault, Julia Kristeva, Didier Eribon, dos antropólogos e até dos psiquiatras, contribuições que você não deveria desprezar ou ignorar, já que se diz “psicóloga” - o que eu posso lhe dizer é que os instintos sexuais são naturais, mas, a sexualidade (incluindo, aí, as identidades sexuais) é cultural. Em se tratando de nós, humanos civilizados, pouca coisa em nossa subjetividade (caráter; “alma”; aquilo que nos faz sujeitos) é natural (vem da natureza), pois, ainda na barriga de nossas mães, recebemos o que ele chama de “banho de linguagem”. Desde recém-nascidos, começamos a ser forjados pela cultura. Uma identidade sexual é estruturada de maneira complexa e envolve muitos elementos: desde as experiências de prazer e desprazer na mais terra infância em relação aos pais ou a quem os represente até representações culturais (a maneira como as práticas sexuais aparecem e são qualificadas em tratados científicos; livros religiosos e didáticos; fotos: filmes; propagandas: novelas e etc.), passando por fatores biológicos. A identidade sexual não se confunde necessariamente com a prática sexual. Esta pode ser um componente da identidade sexual, que diz respeito mais a pertencimento; a um “lugar” no mundo. Deu pra entender?
Veja bem, Rozângela, se a senhora continuar defendendo que o sexo só serve à procriação e, por isso, a homossexualidade é antinatural, eu te sugiro que abra mão o cenário onde você costuma fazer sexo (seu quarto e cama confortáveis) se é que a senhora faz sexo, e vá transar no mato como o fazem os animais; aí, sim, a senhora estará de acordo com o que é "natural". Sugiro que, por extensão, a senhora abra mão de todas as conquistas da cultura: habitação, educação, hábitos alimentares, meios de comunicação, tecnologias, regras de higiene, modos de festejar, artes e beijo na boca, sim, pois, a natureza fez a boca para comer e não para beijar. Abra mão da instituição "família" por que ela também é um fruto da cultura e não da natureza (nunca vi uma cadela de véu e grinalda nem ela ser fiel a um só cão até que a morte os separe; e, se não vi, é porque os cães e cadelas agem conforme a natureza, enquanto mulheres e homens agem conforme a cultura).
E saiba que o entendimento do que é “família” muda no tempo e no espaço. Ou a senhora nunca ouviu falar de que, no Oriente Médio, um homem pode ter dezenas de esposas ao mesmo tempo e contar com a proteção do estado e com a bênção divina? Parece que não... Então, faça isso e aí, sim, a senhora será coerente com o que prega. Se não o fizer, é só reconhecer que é uma fundamentalista fanática, psicótica e incapaz de questionar aquilo que te ensinaram como "verdade" e, por isso mesmo, causadora de infelicidade para si e para os homossexuais que acredita curar. Sem mais,
Jean Wyllys
Para conhecimento
Carta à Revista Veja

Parabéns à jornalista Juliana Linhares pela coerência das perguntas feitas na entrevista com Rozângela Justino (Revista Veja, 12/08-abaixo). Infelizmente, não podemos parabenizar a entrevistada. A psicóloga fere frontalmente os princípios da ciência, a Organização Mundial da Saúde e o código de ética de sua profissão, ao pretender mudar a orientação sexual dos homossexuais, com base em suas convicções religiosas. Na mesma semana dessa entrevista, a Associação Norte-Americana de Psicologia (APA) declarou que “não há qualquer evidência que apoie a afirmação de alguns profissionais, de que a orientação sexual pode ser alterada por terapia”. No exercício da profissão de psicólogo(a), há de ter respeito à cidadania das pessoas LGBT, e não o incentivo ao preconceito, à discriminação e ao estigma. Nas palavras da juíza Emília Maria Velano, em sentença quanto à alegação de inconstitucionalidade feita por Justino sobre a Resolução 001/99 do Conselho Federal de Psicologia: “O Conselho Federal de Psicologia tem a obrigação de reprimir esse comportamento, principalmente no que concerne ao tratamento de homossexuais em consultórios de psicologia, comose fossem doentes sujeitos a transtornos.”

Toni Reis
Presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT


VEJA

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10/AGOSTO/09

"Homossexuais podem mudar"


Entrevista: Rozângela Alves Justino

A psicóloga repreendida pelo conselho federal por anunciar que muda a orientação sexual de gays diz que ela é quem está sendo discriminada

Juliana Linhares

"Preciso continuar a atender as pessoas que voluntariamente desejam deixar a atração pelo mesmo sexo"

Aceitar as diferenças e entender as variações da sexualidade são traços comuns das sociedades contemporâneas civilizadas. A psicóloga Rozângela Alves Justino, 50, faz exatamente o contrário. Formada em 1981 pelo Centro Universitário Celso Lisboa, do Rio de Janeiro, com especialização em psicologia clínica e escolar, ela considera a homossexualidade um transtorno para o qual oferece terapia de cura. Na semana passada, foi censurada publicamente pelo Conselho Federal de Psicologia (formado, segundo ela, por muitos homossexuais "deliberando em causa própria") e impedida de aceitar pacientes em busca do "tratamento". Solteira, dedicada à profissão e fiel da Igreja Batista, Rozângela diz que ouviu um chamado divino num disco de Chico Buarque e compara a militância HOMOSSEXUAL ao nazismo. Só se deixa fotografar disfarçada, por se sentir ameaçada, e faz uma defesa veemente de suas opiniões.

A senhora acha que os homossexuais sofrem de algum distúrbio psicológico? O Conselho Federal de Psicologia não quer que eu fale sobre isso. Estou amordaçada, não posso me pronunciar. O que posso dizer é que eu acho o mesmo que a Organização Mundial de Saúde. Ela fala que existe a orientação sexual egodistônica, que é aquela em que a preferência sexual da pessoa não está em sintonia com o eu dela. Essa pessoa queria que fosse diferente, e a OMS diz que ela pode procurar tratamento para alterar sua preferência. A OMS diz que a homossexualidade pode ser um transtorno, e eu acredito nisso."Conheço pessoas que deixaram as práticas homossexuais. E isso lhes trouxe conforto. Perderam a atração HOMOSSEXUAL, que foi se minimizando. Deixaram de sentir o desejo por intermédio da psicoterapia e por outros meios"

O que é não estar em sintonia com o seu eu, no caso dos homossexuais? É não estar satisfeito, sentir-se sofrido com o estado HOMOSSEXUAL. Normalmente, as pessoas que me procuram para alterar a orientação sexual HOMOSSEXUAL são aquelas que estão insatisfeitas. Muitas, depois de uma relação HOMOSSEXUAL, sentem-se mal consigo mesmas. Elas podem até sentir alguma forma de prazer no ato sexual, mas depois ficam incomodadas. Aí vão procurar tratamento. Além disso, transtornos sexuais nunca vêm de forma isolada. Muitas pessoas que têm sofrimento sexual também têm um transtorno obsessivo-compulsivo ou um transtorno de preferência sexual, como o sadomasoquismo, em que sentem prazer com uma dor que o outro provoca nelas e que elas provocam no outro. A própria pedofilia, o exibicionismo, o voyeurismo podem vir atrelados ao homossexualismo. E têm tratamento. Quando utilizamos as técnicas para minimizar esses problemas, a questão HOMOSSEXUAL fica mínima, acaba regredindo.
Há estudos que mostram que ser gay não é escolha, é uma questão constitutiva da sexualidade. A senhora acha mesmo possível mudar essa condição? Cada um faz a mudança que deseja na sua vida. Não sou eu a responsável pela mudança. Conheço pessoas que deixaram as práticas homossexuais. E isso lhes trouxe conforto. Conheço gente que também perdeu a atração HOMOSSEXUAL. Essa atração foi se minimizando ao longo dos anos. Essas pessoas deixaram de sentir o desejo por intermédio da psicoterapia e por outros meios também. A motivação é o principal fator para mudar o que quiser na vida.



A senhora é heterossexual? Sou.


Pela sua lógica, seria razoável dizer que, se a senhora quisesse virar HOMOSSEXUAL, poderia fazê-lo. Eu não tenho essa vivência. O que eu observei ao longo destes vinte anos de trabalho foram pessoas que estavam motivadas a deixar a homossexualidade e deixaram. Eu conheço gente que mudou a orientação sem nem precisar de psicólogo. Elas procuraram grupos de ajuda e amigos e conseguiram deixar o comportamento indesejado. Mas, sem dúvida, quem conta com um profissional da área de psicologia tem um conforto maior. Eu sempre digo que é um mimo você ter um psicólogo para ajudá-lo a fazer essa revisão de vida. As pessoas se sentem muito aliviadas.

Esse alívio não seria maior se a senhora as ajudasse a aceitar sua condição sexual? Esse discurso está por aí, mas não faz parte do grupo de pessoas que eu atendo. Normalmente, elas vêm com um pedido de mudança de vida.
Se um homem entrar no seu consultório e disser que sabe que é gay, sente desejo por outros homens, só precisa de ajuda para assumir perante a família e os amigos, a senhora vai ajudá-lo? Ele não vai me procurar. Eu escolho os pacientes que vou atender de acordo com minhas possibilidades. Então, um caso como esse, eu encaminharia a outros colegas.
Não é cruel achar que os gays têm alguma coisa errada? O que eu acho cruel é ser uma profissional que quer ajudar e ser amordaçada, não poder acolher as pessoas que vêm com uma queixa e com um desejo de mudança. Isso é crueldade. Eu estou me sentindo discriminada. Há diversos abaixo-assinados de muitas pessoas que acham que eu preciso continuar a atender quem voluntariamente deseja deixar a atração pelo mesmo sexo.
Por que a senhora acha que o Conselho Federal de Psicologia está errado e a senhora está certa? Há no conselho muitos homossexuais, e eles estão deliberando em causa própria. O conselho não é do agrado de todos os profissionais. Amanhã ele muda. Eu mesma posso me candidatar e ser presidente do Conselho de Psicologia. Além disso, esse conselho fez aliança com um movimento politicamente organizado que busca a heterodestruição e a desconstrução social através do movimento feminista e do movimento pró-homossexualista, formados por pessoas que trabalham contra as normas e os valores sociais.
Gays existem desde que o mundo é mundo. Aparecem em todas as civilizações. Isso não indica que é um comportamento inerente a uma parcela da humanidade e não deve ser objeto de preconceito? Olha, eu também estou sendo discriminada. Estou sofrendo preconceito. Será que não precisaria haver mais aceitação da minha pessoa? Há discriminação contra todos. Em 2002, fiz uma pesquisa para verificar as violências que as pessoas costumam sofrer, e o segundo maior número de respostas foi para discriminação e preconceito. As pessoas são discriminadas porque têm cabelo pixaim, porque são negras, porque são gordas. Você nunca foi discriminada?

Não como os gays são. Não? Nunca ninguém a chamou de nariguda? De dentuça? De magrela? O que quero dizer é que as pessoas que estão homossexuais sofrem discriminação como todas as outras. Eu tenho trabalhado pelos que estão homossexuais. Estar HOMOSSEXUAL é um estado. As pessoas são mulheres, são homens, e algumas estão homossexuais.
Isso não é discriminação contra os que são homossexuais e gostam de ser assim? Isso é o que você está dizendo, não é o que a ciência diz. Não há tratados científicos que digam que eles existem. Eu não rotulo as pessoas, não chamo ninguém de neurótico, de esquizofrênico. Digo que estão esquizofrênicos, que estão depressivos. A homossexualidade é algo que pode passar. Há um livro do autor Claudemiro Soares que mostra que muitas pessoas famosas acreditam que é possível mudar a sexualidade. Entre eles Marta Suplicy, Luiz Mott e até Michel Foucault, todos historicamente ligados à militância gay.
Quantas pessoas a senhora já ajudou a mudar de orientação sexual? Nunca me preocupei com isso. Psicólogo não está preocupado com números. Eu vou fazer isso a partir de agora. Vou procurar a academia novamente. Vou fazer mestrado e doutorado. Até hoje, eu só me preocupei em acolher pessoas.
O que a senhora faria se tivesse um filho gay? Eu não teria um filho HOMOSSEXUAL. Eu teria um filho. Eu iria escutá-lo e tentaria entender o que aconteceu com ele. Os pais devem orientar os filhos segundo seus conceitos. É um direito dos pais. Olha, eu quero dizer que geralmente as pessoas que vivenciam a homossexualidade gostam muito de mim. E também quero dizer que não sou só eu que defendo essa tese. Apenas estou sendo protagonista neste momento da história.

A senhora se considera uma visionária? Não. Eu sou uma pessoa comum, talvez a mais simplesinha. Não tenho nenhum desejo de ficar famosa. Nunca almejei ir para a mídia, ser artista, ser fotografada.
A senhora já declarou que a maior parte dos homossexuais é assim porque foi abusada na infância. Em que a senhora se baseou? É fato que a maioria dos meus pacientes que vivenciam a homossexualidade foi abusada, sim. Enquanto nós conversamos aqui, milhares de crianças são abusadas sexualmente. Os estudos mostram que os abusos, especialmente entre os meninos, são muito comuns. Aquelas brincadeiras entre meninos também podem ser consideradas abusos. O que vemos é que o sadomasoquismo começa aí, porque o menino acaba se acostumando àquelas dores. O homossexualismo também.
A senhora é evangélica. Sua religião não entra em atrito com sua profissão? Não. Sou evangélica desde 1983. Nos anos 70, aconteceu algo muito estranho na minha vida. Eu comprei um disco do Chico Buarque. De um lado estavam as músicas normais dele. Do outro, em vez de tocar Carolina, vinha um chamamento. Eram todas canções evangélicas. Falavam da criação de Deus e do chamamento da ovelha perdida. Fui tentar trocar o LP e, na loja, vi que todos os discos estavam certinhos, menos o meu. Fiquei pensando se Deus estava falando comigo.

O espírito cristão não requer que os discriminados sejam tratados com maior compreensão ainda? Se eu não amasse as pessoas que estão homossexuais, jamais trabalharia com elas. Até mesmo os ativistas do movimento pró-homossexualismo reconhecem o meu amor por eles. Sempre os tratei muito bem. Sempre os cumprimentei. Na verdade, eles me admiram.
Por que a senhora se disfarça para ser fotografada? Um dos motivos é que eu não quero entrar no meu prédio e ter o porteiro e os vizinhos achando que eu tenho algum problema ligado à sexualidade. Além disso, quero ser discreta para proteger a privacidade dos meus pacientes. Por fim, há ativistas que têm muita raiva de mim. Eu recebo vários xingamentos; eles me chamam de velha, feia, demente, idiota. Trabalho num clima de medo, clandestinamente, porque sou muito ameaçada. Aliás, estou fazendo esta entrevista e nem sei se você não está a serviço dos ativistas pró-homossexualimo. Eu estou correndo risco.
"O ativismo pró-homossexualismo está diretamente ligado ao nazismo. Todos os movimentos de desconstrução social estudam o nazismo, porque compartilham um ideal de domínio político e econômico mundial"
Que poder exatamente a senhora atribui a esses ativistas pró-homossexualismo? O ativismo pró-homossexualismo está diretamente ligado ao nazismo. Escrevi um artigo em que mostro que os dois movimentos têm coisas em comum. Todos os movimentos de desconstrução social estudaram o nazismo profundamente, porque compartilham um ideal de domínio político e econômico mundial. As políticas públicas pró-homossexualismo querem, por exemplo, criar uma nova raça e eliminar pessoas. Por que hoje um ovo de tartaruga vale mais do que um embrião humano? Por que se fala tanto em leis para assassinar crianças dentro do ventre da mãe? Porque existe uma política de controle de população que tem por objetivo eliminar uma parte significativa da nação brasileira. Quanto mais práticas de liberação sexual, mais doenças sexualmente transmissíveis e mais gente morrendo. Essas políticas públicas todas acabam contribuindo para o extermínio da população. Essas pessoas que estão homossexuais estão ligadas a todo um poder nazista de controle mundial.
Não há certo exagero em comparar a militância HOMOSSEXUAL ao nazismo? Bom, se você acha que isso pode me prejudicar, então tire da entrevista. Mas é a realidade.

ronilsonbrito

Natural de Monte Azul/MG, residente e domiciliado em Montes Claros/MG. Bacharel em Direito e Licenciado em Filosofia, com pós-graduação em ambas as áreas e especialização em Teoria da Justiça, ênfase em Direitos Humanos dos Homossexuais. Trabalho na Unimontes e atualmente coordeno o NEHOM (Núcleo de Estudos sobre Homocultura), sendo também professor no Curso de Gênero e Diversidade na Escola, na modalidade Educação a Distância.